Há pouco tempo atrás conheci uma garota, e aos poucos fui
me identificando e tornando seu amigo.
Ela tem 21 anos e essa narrativa foi obtida de forma simples e descontraída em conversas via Facebook.
Então vamos conhecer um pouco da historinha da nossa
amiguinha:
“Oi, amores e
amoras!
Eu sou Querolayne Barros e vou contar para vocês um pouco
da minha vida e das cidades por onde passei.
Em 1993, eu linda,
nasci em Juara - MT
Juara é um município brasileiro de Mato Grosso e fica a
730 km da capital Cuiabá.
Curiosamente é a cidade que tem mais cabeças de gado do
que pessoas. Cerca de 1,5 milhões de gados e pouco mais de 32 mil habitantes,
Juara é conhecida como "A Capital do Gado".
Meus pais mudavam muito de um lugar para o outro e foi assim até irmos
parar em Água Clara – Mato Grosso do Sul, onde estou até hoje.
Tive uma infância feliz e saudável.
Fui criada na fazenda junto com os meninos, então me
apeguei nas coisas masculinas como jogar futebol e andar de bicicleta.
Talvez por conta disso e por ser agitada, participei de
uns concursos de bicicross e levei o título para casa de 2007 á 2009.
Outra paixão minha é o Hip-Hop. A dança também foi muito
especial e importante para mim. Com ela participei de várias disputas de B.Boys
aqui no Mato Grosso do Sul.
Quando me formei no ensino fundamental e teve a formatura
eu que nunca tinha pintado as unhas e fui sempre largada com essas coisas, tive
minha primeira vez assim:
Minha tia já era manicure e minha mão marcou com ela para
fazer as minhas unhas.
Ela fez toda a limpeza necessária e desnecessária também,
rsrs.
Tirou tudo do dedo e meus pés ficarão todos machucados,
pois minhas unhas eram iguais de menino até então.
Foi aí que comecei a me apaixonar por essa arte e
profissão.
E desse dia em diante resolvi que ninguém mais iria mexer
nos meus pés além de eu mesma.
Logo depois pedi para essa minha tia para me ensinar a
pintar as unhas e ela me ensinou o básico.
Com 14 anos comecei a fazer as minhas próprias unhas e
fui tomando gosto por essa profissão.
Um ano depois, me envolvi com um garoto que no início era bom e legal, porém, por falta de informação ou de irresponsabilidade dele, pois era ingênua na época, engravidei e foi quando tudo mudou da minha vida.
Fomos morar juntos e lá passei por situações ruins que
algumas prefiro nem comentar.
Ele caiu no mundo das drogas e foi ficando, cada dia
pior.
Infelizmente virou um marginal e minha vida corria perigo
e sofria muito, mais por causa da minha filha.
Foi assim até ele se envolver com a mulher de um
traficante. Por causa disso botaram fogo na minha casa e perdemos tudo, menos
os meus documentos e da minha bebe que estava dentro de um abajur que era a
imagem da Nossa Senhora Aparecida.
Nesse dia eu consegui fugir dele e voltei para a casa dos
meus pais com minha filha que tinha apenas 10 meses.
Resolvi mudar meu jeito de ser e reconstruir minha vida,
apesar de achar algumas vezes que nunca ia ser feliz.
Continuei a fazer
minhas unhas e mesmo sem especializações trabalhei em salões e a domicílio.
Em 2012, minha filha, agora com três anos, eu fui estudar
numa cidade bem perto daqui chamada Três Lagoas, onde fiz dois cursos técnicos
um de Logística e o outro de Recursos Humanos.
E consegui emprego numa empresa grande logo em seguida.
Eu sempre tive cabelos crespos e por causa da mídia e padrões que a sociedade impõe, eu os odiava e vivia alisando o meu cabelo.
Até eu sofrer um acidente e perder boa parte do meu
“lindo” cabelo.
Fiquei sem chão.
Mais uma rasteira que levei da vida.
Logo meu cabelo...
Mas, como na vida, tudo acontece na hora certa e se
aconteceu isso comigo, era meu destino e dele não tem como você correr.
Então decide raspar a cabeça e me aceitar de uma vez por
todas.
Nesse dia eu me transformei.
Eu virei outra mulher.
Ao invés deu me esconder e me inibir por causa do
preconceito, eu comecei a encará-los de frente, colocando minha “cara a tapa”.
Antes eu dava as costas ao preconceito, hoje o enfrento
de frente e o boto para correr.
E é assim que vai ser até o fim dos meus dias.
Nessa época em 2012, conheci meu marido. Na verdade a
gente já tinha estudado juntos, mas eu o odiava porque era play boy.
Sabe aqueles meninos metidos, que todas as meninas eram
loucas para ficar com ele?
Desse jeitinho e eu marrenta, usava bermudão, toda
descolada.
O povo da minha cidade me julgava muito, já até falaram
que eu era lésbica, porém eu nunca liguei para o que as pessoas pensam ou deixa
de pensar.
Continuando, pouco tempo depois, começamos a andar com os
mesmos amigos e frequentar as mesmas festas.
Só que eu era louca, ninguém ficava sem mim.
Sempre fui para as festas só para curtir e dançar.
Ficava
só de zueira, sem ficar com ninguém.
Nesse meio tempo eu comecei a me aceitar do jeito que eu
sou, depois do acidente que perdi parte do meu cabelo, comecei a ver as coisas
com outros olhos e para realmente começar do zero, raspei a cabeça e deixar
crescer tudo outra vez, sem química, sem alisamentos e afins.
As pessoas não me entenderam e as pessoas, que eu achava
que era meus amigos começou a me evitar.
Perguntando se eu era lésbica e eu nem respondia.
Mas uma pessoa ficou do meu lado e me deu apoio quando eu
mais precisei.
Esse carinha que eu odiava ficou do meu lado firme e
forte e ainda disse para mim que me admirava muito, porque eu com tantos
problemas e nem assim eu deixava de sorrir.
Também me disse que dentro da menina da gandaia, havia
uma grande mulher.
Mas como era marrenta e para fazer um charminho, ainda
demorou em que eu o aceitasse como meu namorado.
Pois no passado, já tinha sofrido muito e o medo voltava
a bater na minha porta.
E agora eu tinha muito mais receio, por conta da minha
filha, que é a joia mais preciosa e valiosa que tenho.
E vocês sabem que hoje não se pode confiar em quase
ninguém.
Um dia depois do meu aniversário, eu o aceitei como meu
namorado e na mesma semana fomos embora juntos para Três Lagoas e casamos com
uma semana de namoro, afinal já o conhecia há muito tempo e pra que esperar?
Nós sabíamos que muitos iam ser contra, mas o amor falou
mais alto e com ele não tem nada que se deve temer.
Depois de dois anos em Três Lagoas, voltamos para Água
Clara, onde estou até hoje.
Completamos três anos de casados e muito bem casados para
falar a verdade.
Para finalizar deixo uma foto para vocês da minha família
que amo muito, onde tem eu, meu marido e minha filha.
Então pessoal essa é um pouco da minha história de luta,
fé e perseverança.
Agradeço a todos que fizeram parte da minha vida e ao
Rafael Bretas por compartilhar ela com vocês.
Um beijo, fiquem com
Deus e até a próxima”.
* FIM *
Nenhum comentário:
Postar um comentário